quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O ALUNO E O SÁBIO MAGISTER


Abimael Canto Melo

O pequeno aluno caminhava pelas ruas da realidade, curioso, admirado com o que via, mas angustiado pela dificuldade de compreender os fenômenos naturais, políticos, sociais e culturais do mundo em que vivia. Sua existência era um verdadeiro dilema entre o ver a realidade e o compreendê-la. Alunos podem enxergar com os olhos, mas não têm a luz do conhecimento em seu intelecto. São assim por natureza.
Ele ouvia muito falar na escola, o lugar onde se acende a luz do intelecto. Mas pouco incentivo recebia para isso. Precisava sobreviver, e a necessidade de sobrevivência lhe afastava da escola. Seus pais, – alunos adultos – diziam-lhe que sua existência poderia ser mais significativa se fosse à escola e encontrasse um sábio magister; este poderia lhe mostrar o caminho que lhe levaria ao conhecimento.
Certo dia, foi a uma escola meio assustado e se encontrou com um magister, que foi logo saudando-o:

_ Olá, pequeno aluno! O que posso fazer por você?

_ Quero compreender a realidade – começou a responder ao sábio. Vejo as coisas, os fenômenos, mas não tenho luz intelectual para compreender tudo isso. Ajude-me, magister! Acenda em meu intelecto a luz do conhecimento – suplicou o menino.

O sábio Magister, com olhar afetuoso, disse àquela carente criatura:

_ Vou conduzi-lo ao bosque. Lá, encontraremos as leituras; são as árvores do conhecimento. As leituras produzem lindas e grandes folhas que se abrem em duas partes quando as tocamos – explicou o sábio magister – Assim que você abre uma dessas folhas, pequenos signos luminosos, que são as células das folhas, começam a brilhar diante de seus olhos. A luz dos signos vai para o seu intelecto e você começa a interpretar a realidade, e quanto mais você se interessar pelas leituras, mais conhecimento terá. Você será capaz não só de entender a realidade, mas também terá competência para interferir nela e transformá-la – e acrescentou: a partir do momento em que começar a ter intimidade com os signos das folhas da leitura, você deixará de ser um aluno e passará a ser um estudante; e depois, será um estudioso, e assim também um sábio magister ou um outro grau de competência na área do conhecimento.

O pequeno aluno ficou fascinado com aquelas novidades e quis logo ir ao bosque para conhecerem as leituras.
Chegando ao bosque, o sábio magister alertou o garoto:

_ Meu interessado aluno, quero adverti-lo que as leituras são de várias espécies e os graus de luz dos signos variam de intensidade, de acordo com o tamanho das árvores. Há para todas as áreas do conhecimento. Você terá que começar pelas leituras com pouca intensidade de luz dos signos, pois o conhecimento é um processo gradativo. A compreensão da realidade começa com pouca luz. As folhas com signos mais reluzentes devem ser abertas na medida em que você for conhecendo os signos de luz menos intensa. Portanto, comece pelas árvores menores.

O garoto começou a abrir folhas e a receber luz em seu intelecto. Saia do bosque e começava a interpretar a realidade através da linguagem oral e escrita. Isso lhe causava mais interesse pelas leituras. Todos os dias ele ia ao bosque, pegava folhas e levava para abri-las em casa. Era como estar enfeitiçado por aqueles signos mágicos reluzentes. Quanto mais abria folhas de leituras, mais conhecimento acumulava, mais fluente e mais sujeito ativo da realidade se tornava.
Mas algo incomodava o ex-aluno, agora um estudioso: “Por que nem todos têm acesso às leituras?” – questionava ele.
Em um de seus encontros com o sábio magister, o agora estudioso perguntou:

_ Por que, sábio magister, poucos têm acesso às leituras?

O sábio, mordendo o lábio inferior, fechando os olhos e franzindo a testa, respondeu indignado e um tanto reticente:

_ Meu caro estudioso...Não mais pequeno aluno... Alguns ex-alunos, tornaram-se detentores de conhecimentos que conferem poderes sobre os demais humanos...Eles se tornaram manipuladores da sociedade...Aprenderam a formular ideologias de controle social...E uma das formas de manter as pessoas sob seu controle é privando-as de conhecer as leituras. Eles plantam outras árvores no bosque, mais abundantes, mais atraentes, com frutos deliciosos e que causam alienação em quem deles come. Veja que a árvore da leitura não produz fruto, só folhas. O fruto da leitura brota no intelecto de quem se interessa por suas folhas. A magia dos signos reluzentes só tem sentido para quem se interessa em abrir folhas de leituras, meu filho. Os poderosos querem que as pessoas continuem como alunos a vida toda. E para isso fazem muita propaganda das árvores que produzem o torpor da alienação: o entretenimento, por exemplo, é uma árvore muito atraente, tem seu valor para a vida, mas pode afastar as pessoas da visão crítica da realidade, tornando-as apáticas à construção de uma sociedade mais esclarecida.

O estudioso, reflexivo, e ao mesmo tempo angustiado com a situação apresentada, perguntou ao sábio:

_ Magister, que posso fazer para mudar essa situação?

O sábio, o olhou com admiração, mas não com surpresa, e o aconselhou:

_ Oh, determinado estudioso! Que incêndio de alegria causaste em minha alma! O que precisas fazer? Planta leituras onde puderes; convida alunos a conhecerem essas árvores; leva-os ao bosque; multiplica esse prazer, ou então, que sejas um magister.

A partir daquela experiência entre os dois, a realidade passou a ter outros aspectos.

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